A primeira delas retoma a noção de uma “historiografia performativa” como um modo de proceder, formulada na tese de doutorado da pesquisadora Eleonora Fabião (NYU, Performance Studies, 2006), em que a autora defende uma prática histórica anti-metafísica e contra-totalitária, na direção de uma experiência dos fatos fenomenológica e conscientemente corpórea. Tal proposição quer observar os fatos, os documentos sobre os fatos, a linguagem e a arte da performance sem ignorar ou resolver as lacunas entre eles, ou seja, sem resolver a inerente assimetria entre experiência, arquivo e narrativas históricas. Ao contrário, o esforço é de assumi-las como parte constituinte do escrever histórico, a fim de historiografar “sem criar experiências e expressões artísticas monumentais ou colonizadoras” (FABIÃO, 2006:24. Tradução de Flavia Meireles).
A segunda abordagem historiográfica que nos parece importante considerar se refere ao contexto histórico, através da noção de “conexão espectral”. Esta abordagem se concretiza nas palavras do pesquisador Grei Marcus em seu livro “Lipstick traces”, de 1989:
“O contexto histórico é o resultado de momentos que parecem nada deixar para trás deles mesmos, nada, exceto o mistério de conexões espectrais entre pessoa muito distanciadas no espaço e no tempo, mas falando, de alguma maneira, a mesma língua”.
Buscamos, neste espaço, levantar outras possibilidades historiográficas que tensionem e multipliquem as possibilidades de se fazer história hoje.
O quadro foi uma das inspirações para o filósofo alemão Walter Bejamin formular as suas teses sobre o conceito de história. Nelas, Benjamin critica a historiografia que acredita poder resgatar e recuperar o passado tal qual ele foi, enquanto que para o filósofo o passado como uma imagem que não se deixa capturar e que foge a cada momento.
“A verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecido (…) Pois irrecuperável é cada imagem do presente que se dirige ao presente, sem que esse presente se sinta visado por ela (…)” (BENJAMIN, Walter. Sobre o Conceito da História. in: BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Vol 1. São Paulo: Brasiliense, 1994)
Com Benjamin poderíamos dizer que a história é um gesto de dança.